DEPENDÊNCIA QUÍMICA : AVENTURA VIAGEM OU SERVIDÃO( III )
A FISSURA ( II )
JORGE BICHUETTI
Um espectro de morte ronda os lisérgicos vôos da fissura... A morte impessoal... Um acontecimento...
Na fronteira, os tempos se enovelam e se impera uma presentificação do futuro e do passado.
Só uma grande saúde livra e libera o indivíduo de efetuar uma inscrição, uma incorporação, uma tatuagem desta "porcelana esfacelada" no corpo, interiorizando uma feroz e incontrolável destrutividade.
O endurecimento absoluto do presente inibe a caminhada e o processo de vida.
para limitar, impedir , inibir a inscrição deste acontecimento no corpo, é necessário uma contra-efetuação:" dar a chance da fissura sobrevoar seu campo de superfície incorporal sem se deter na quebradura de cada corpo", pois "a fissura é nada se não compromete o corpo"( p. 164).
Deleuze determina sua análise, num movimento de esperança e afirmação das potência inventivas da vida:
-" Não podemos renunciar à esperança de que os efeitos da droga ou do álcool( suas "revelações") poderão ser revividos e recuperados por si mesmos na superfície do mundo, independentemente do uso das substâncias, se as técnicas de alienação social que os determinam são convertidas em meios de exploração revolucionários" ( p. 164-165)
- Metralhamento da superfície para transmutar o apunhalamento dos corpos, ò psicodelia" (p. 165)
Uma sobriedade psicodélica, surreal e insurgente
A sobriedade cinzenta, alienada, de repetições restritivas e normôticas vulnerabilizam o indivíduo que na fissura se vê desarmado e não contra-efetua uma desterritorialização criativa e inventiva, multicolorida e estelar, sem expor seu corpo, que é um corpo estriado com quebraduras ávidas dos miasmas da fissura...
Um vida metamorfoseante, de singularidade e multiplicidade, de corpo alisado pelas experimentações que se realiza e gera linhas de fuga, torna-se um corpo apto à contra-efetuação, ou seja, um corpo onde as lavas do vulcão não o penetra, nem corre em suas veias a porcelana pulverizada da fissura...
A fissura não se inscrevendo, nem penetrando as entranhas do seu corpo, é estrela cadente, vagalume moribundo ou fogo fátuo...
Cuidar, assim, é liberar o homem das alienações que o distancia da diferença, da singularidade, da multiplicidade, das redes rizomáticas e dos devires... Liberado destas alienações ele toma posse do que pode uma vida que livre borboleteia nos horizontes mágicos do novo, da criatividade e das atualizações insurgentes de virtualidades transcósmicas.
O dia em que a Terra parou
ResponderExcluirA cena já é conhecida: uma imensa esfera vinda do céu pousa no centro de alguma civilização político e hegemonicamente influente, causando alvoroço e curiosidade em alguns cantos, pânico em outros. Essa história, baseada no conto Farewell to the Master, do escritor Harry Bates, já foi relatada em duas versões no cinema. O enredo filmado em 1951, por Robert Wise é específico, retratando, claramente, um problema mundial como o foi a guerra fria. Já o filmado em 2008, com uma ótima atuação de Klaatu, aliás, Keanu Reeves e da belíssima Jennifer Connelly, nos trás um tema mais amplo, que ouso chamar de ambiência, pois se trata de mostrar que a relação entre o homem e o meio, entre o homem e a natureza, em especial, tem seus dias contados, pois desequilibrada. Mas a questão que aqui levanto não é essa. O que ressalto é que essa história é, erroneamente, considerada como uma ficção científica. Daí a contaram com flores e felizes finais, depois de um Armageddon quase irreversível, mandado para salvar a Terra da espécie humana e construir uma nova Era; a história relata que se salvou a nossa espécie nos últimos segundos da catástrofe final. Mas a verdadeiro rumo seguiu outro sentido, um sábio assim me disse.
O que ocorreu foi o pouso da esfera, o alvoroço e a curiosidade iniciais. Até aqui nada de novidades. O que não se contou ainda é que, estranhamente, a esfera fazia as pessoas viverem seus atos em relação a ela, dentre esses atos, os próprios desejos a quem a ela os dirigia. Por exemplo, houve o milico (guerreiro, defensor e outras designações a depender da civilização) que lhe atirou um objeto mortal, uma bala de revolver, por exemplo, que ao entrar na esfera, desferiu um golpe certeiro na cabeça de seu projetor, o milico, não se sabe com qual efeito físico; a bala simplesmente, sem ricochetear, atravessou a fronte do indivíduo. Um pelotão de policiais (ou guerreiros e etc), comandados para empurrar o globo, foram lançados, ao longe, sem explicação alguma; aqueles que lhe atiraram pedras, de pedras foram atingidos. A lista de ocorridos é infinda, tantos casos quantos são as ações humanas e nossos desejos. O importante é dizer que, nesse jogo de ação e reação, algumas pessoas, em volta do globo, morreram, outras choraram e algumas ficaram paradas. O raio de ação da esfera foi se aumentando progressivamente até que as pessoas que não viam e nem sabiam da esfera experimentavam, em suas vidas, o referido jogo que passou a ser a lei do momento, em todo globo, terrestre, é claro. Após alguns instantes, dois terços das pessoas da população mundial estavam mortos. O um terço restante estava parado, pensando cada um em seu calvário pessoal, mas com um plano de fundo em comum: buscavam paz. Por um instante, todas as pessoas pararam e, pensando nisso da paz, sentiram, no mais íntimo, uma sensação, indescritível, de paz. No instante seguinte, a espécie humana foi dizimada, levando, novamente, milhares e milhares de anos para se desenvolver em sociedade de Homo Sapiens Sapiens. Isso já ocorreu três vezes na história da Terra. Em todas as vezes, as aparelhagens que sustentam a caminhada humana (não que elas sejam necessárias) foram desligadas de sua força motriz, seja a eólica, a elétrica e outras mais, a depender dos anos em que ocorreram.
Em todas as vezes, a missão, de organizações extraterrestres, era de salvar o planeta Terra da progressiva morte, causada pela espécie humana, ecologicamente desequilibrada. Vivemos, pois, a quarta Era. É certo que um globo pousará mais uma vez em algum canto do mundo. O país em que pousará não me causa curiosidade alguma. O que me intriga mesmo é saber se será meu filho ou meu neto que presenciará o momento.
Agora entrou!
ResponderExcluirAbraços com carinho
Sumaia